Em um mundo onde recursos naturais se tornam cada vez mais escassos, a água se destaca não apenas como elemento vital à vida, mas também como um ativo financeiro de longo prazo. Entender seu valor, os riscos associados à sua gestão e as oportunidades de proteção financeira é essencial para investidores, gestores públicos e cidadãos engajados.

O Valor da Água no Cenário Global e Nacional

O mercado global de água engarrafada atingiu, em 2024, uma receita de US$ 336,21 bilhões, com previsão de alcançar US$ 452,9 bilhões até 2029. Essa taxa de crescimento de 6,14% ao ano evidencia a valorização crescente da água como ativo.

No Brasil, o consumo anual ultrapassa 21 bilhões de litros, colocando o país como o quinto maior mercado mundial. A projeção de 66 litros por habitante em 2028 reforça um cenário de expansão robusta e constante.

O Boom do Saneamento Privado no Brasil

A expansão da iniciativa privada no saneamento e tratamento de esgoto registrou um crescimento de 466% no Brasil. Esse movimento não apenas abre portas para investidores, mas também promete eficiência operacional e retorno financeiro.

Um caso emblemático é a desestatização da Sabesp em São Paulo, que gerou uma redução de 0,6% na tarifa residencial de água em 2024, enquanto a média nacional aumentou 6,8%. Esse resultado demonstra que modelos privados podem reduzir custos e trazer benefícios diretos à população.

Desafios Operacionais e Perdas Financeiras

Atualmente, o Brasil perde o equivalente a 6.346 piscinas olímpicas de água tratada por dia. Em termos anuais, são 5,8 bilhões de metros cúbicos desperdiçados, volume suficiente para abastecer quase 50 milhões de pessoas.

• Perdas totais: 40,31% da água produzida, acima da meta de 25%.
• Perdas físicas: mais de 3 bilhões de metros cúbicos por ano.
• Potencial de economia: 1,9 bilhão m³ anuais se a meta fosse atingida.

Reduzir essas perdas poderia gerar um ganho econômico estimado de R$ 17 bilhões até 2033, além de aumentar a resiliência frente às mudanças climáticas.

Projeções do Mercado de Água Engarrafada

Necessidade de Investimentos Massivos

O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) estima em R$ 516,4 bilhões o montante necessário para universalizar água e esgoto até 2033. Até o momento, foram aplicados R$ 62,3 bilhões, ficando um déficit de R$ 454,1 bilhões.

Para cumprir as metas, o país terá de mais do que dobrar o volume de investimentos anuais, elevando de R$ 20,7 bilhões para, pelo menos, R$ 50 bilhões por ano.

Contexto de Déficit de Acesso

Apesar dos avanços, 34 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada e 90 milhões carecem de coleta de esgoto. Hoje, apenas 70% da população conta com abastecimento seguro e 55,2% tem coleta adequada de esgoto.

O Marco Legal do Saneamento estabelece metas ambiciosas: 99% de acesso à água potável e 90% de cobertura de esgoto até 2033. Reduzir as perdas de 40% para 25% é também um dos pilares dessa agenda.

Instrumentos de Gestão e Cobrança

A Resolução ANA nº 233/2024 atualiza os Preços Públicos Unitários (PPUs) para uso da água, com reajustes entre 3,88% e 4,76%. Essa cobrança visa estimular o uso racional e gerar recursos para recuperação de mananciais.

Os valores arrecadados são destinados a ações definidas pelos comitês de bacia, promovendo uma gestão participativa e orientada para resultados.

Caminhos para Proteger o Ativo Água

Proteger a água financeiramente exige estratégias integradas, envolvendo:

• Modernização de redes e combate a vazamentos;
• Parcerias público-privadas para melhorar eficiência;
• Incentivos fiscais para projetos de reutilização;
• Educação ambiental para uso consciente.

Cada uma dessas iniciativas contribui para minimizar perdas, reduzir custos e garantir a sustentabilidade econômica e ambiental.

Conclusão: Um Chamado à Ação

A água é o recurso mais precioso que possuímos e, ao mesmo tempo, um ativo financeiro de valor crescente. Investir em sua preservação, eficiência e gestão inteligente não é apenas um imperativo ambiental, mas também uma oportunidade de gerar retorno econômico e social.

É hora de unir esforços entre governos, empresas e sociedade civil para transformar a água em um ativo protegido, eficiente e valorizado. Somente assim teremos a garantia de um futuro onde esse bem essencial estará disponível para todos.